(...)Sigo, em silêncio, pela chuva fora. Por entre a chuva. Dentro da chuva, lágrimas que me salgam as feridas. Dentro da mente, ainda te oiço, na sombra do suor. Quando saí, disseste até logo com um eco de adeus, Mariana. Sigo, sem parar, apenas mais leve a partir do momento em que trouxe ao esquecimento estes pensamentos todos. Com a passada compassada pelos pensamentos que me confundem, aproximei-me da porta de casa.
Meto a chave à fechadura. Casa vazia. Vazia? A esta hora?, estranho eu. Procuro por um bilhete, um recado, talvez escrito a caneta e colado no frigorífico com um desses ímans que sairam nos gelados que compraste para o miúdo. Com uma angústia que cresce e cresce, entrei no quarto. Mariana, o que vi não vou esquecer, o corpo frio, Mariana, os teus olhos vidrados, de um verde que já não volta a ser, olham um céu que não existe, Mariana. Numa das mãos, um frasco cheio de nada onde antes houvera aqueles que chamavas "as bombas", que tomavas como rebuçados quando andavas mais nervosa. O miúdo choramingava, assustado, mas ecoava como se fosse longe, mais longe do que seja lá onde for que estejas. Na outra mão, a carta, Mariana. E ao ver aquele pedaço de papel amassado por entre os teus dedos, aí, entendi que nada nem ninguém teria o teu rosto, Mariana.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Texto: Sara Pereira, final do 1º capítulo de "Contra Moinhos de Vento" (C) 2008
à(s) 04:42 Publicada por Adinatha Kafka
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6 comentários:
Arrepiante!
*
Ficção...verdade? dramático...
Passou o dia sobre as cidades
Esquecido por esta estação
Uma flor deposita no vento uma semente
Este ribeiro leva consigo a ilusão
Secretamente a terra a recolhe
Guarda-a da voragem do vento
Espera que água a fecunde
Explode a vida a cada momento
Convido-te a sentir o toque pungente das trindades…
Boa fim de semana
Mágico beijo
Deu-me um arrepiozinho na espinha. Tão bom!
Continua sim?
:*
É bom, sim. Lembra-me vagamente um texto que fiz ha uns anitos atrás, onde a personagem principal de 16 anos encontrava o seu fiável e protector irmao mais velho, e única família, estendido no sofa de casa, uma casa escura e apenas uma luz intermitente, com uma seringa espetada no braço. Claro que não tinha a emotividade e o floreado contido nesta escrita. Afinal andava no que? Para aí no décimo ano, se tanto.
"Contra moínhos de vento" parece-me ser um título promissor. Gostei mesmo. Vê se acabas isso para me deixares ler.
ja tenho blog :) beijinhos filhota. ti adoro
Já actualizavas o blogocoiso, nao?
:\
Não acho bem pá!
LOL
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